Debreagem:
No discurso, encontramos três categorias enunciativas que são:
– pessoa, espaço e tempo –
isso ocorre por meio de um procedimento chamado
debreagem
Que trata da “expulsão fora da instância da enunciação da pessoa, do espaço e do tempo do enunciado” (Fiorin, 1995, p.3 Fiorin (1995; 1996; 2006; 2008a; 2008b)
que apresenta e discute outro mecanismo, a
embreagem, o “efeito de retorno à enunciação, produzido pela neutralização das categorias de pessoa e/ou espaço e/ou tempo, assim como pela denegação da instância do enunciado” (FIORIN, 1995, p. 29).
Para Greimas e Courtés, a debreagem “tem por efeito referencializar a instância a partir da qual ela
se efetua”, criando, no enunciado discursivizado, um simulacro da realidade exterior a ele (uma cópia da
realidade extralinguística
Para compreender facilmente o processo da debreagem, parte-se do seguinte princípio: a pessoa, o tempo
e o espaço da enunciação referem-se a um
eu, um
aqui e um
agora, que podem ser recuperados no enunciado.
Hã?????
Funciona assim, a debreagem tem como principio no enunciado estabelecer o
EU, o AQUI e o AGORA
Quando no texto, encontramos essas marcas chamamos então de instância da enunciação, temos um texto enunciativo, onde ocorreu uma debreagem enunciativa. (
gravem isso)
Quando são ausentes essas marcas,(eu, aqui e o agora) existindo outras que são um não-eu
(ele), um não-aqui (
alhures) e um não-agora (
então),
tem-se um texto enuncivo, a partir de uma debreagem enunciva.
Fiorin (2006, p. 89) ressalta que, “com as debreagens enunciativas e enuncivas criamos a ilusão de
que as pessoas, os espaços e os tempos inscritos na linguagem são decalques das pessoas, dos tempos e dos espaços do mundo”.
Recapitulando
No discurso, encontramos três categorias enunciativas que são:
– pessoa, espaço e tempo –
EU AQUI AGORA
debreagem enunciativa
ELE ALHURES ENTÃO
debreagem enunciva
Debreagem enunciativa: quando encontramos no texto um EU, AQUI e AGORA
Debreagem enunciva: quando encontramos ELE, ALHURES e ENTÃO
Cont.:
De qualquer forma, por meio da debreagem, são acessados
três procedimentos básicos pelos quais, segundo Greimas e Courtés (2008), a enunciação ocorre:
a actorialização, a espacialização e a temporalização,
actancial espacial temporal
debreagem actancial:
A debreagem actancial refere-se à projeção, no enunciado, dos actantes da enunciação eu (que fala) e tu (para quem se fala)
Ou seja a debreagem actancial ocorre quando encontramos um eu (que fala) um tu (para quem se fala) tem-se uma debreagem actancial enunciativa, quando oculto encontraremos o enunciado, o ele (que não fala/sobre quem se fala) sendo então uma debreagem actancial enunciva.
Por exemplo:
(1) Tenho fome.
o actante da enunciação eu é debreado enunciativamente, mesmo que de forma implícita (sem a
utilização do pronome), sendo recuperado pela desinência número-pessoal do verbo ter, conjugado na
primeira pessoa do singular.
(2) Pedro tem fome.
oculta-se o actante da enunciação, sendo debreado enuncivamente o actante do enunciado, um ele, figurativizado com o nome Pedro. Nesse caso, a configuração discursiva segue a normas de regência, com o verbo ter conjugado em terceira pessoa do singular.
a debreagem espacial
Na debreagem espacial encontramos a instalação dos espaços da enunciação no enunciado. Será considerada uma
debreagem espacial enunciativa quando encontrarmos um aqui como espaço em que se insere o actante da enunciação.
Quando o espaço não é o aqui encontramos então o alhures, onde se produz o enunciado, caracteriza uma debreagem espacial enunciva. Por exemplo:
(3) A conferência será nesta sala.
Em (3), o espaço é debreado pelo emprego do demonstrativo nesta, que remete a um aqui, onde acontece
a enunciação.
(4) O presidente está em sua sala.
Em (4), ao contrário, o espaço não é determinado, podendo ser qualquer lugar, qualquer
outro espaço em que não está presente o enunciador.
Contudo, cabe lembrar, como o faz Fiorin (1995), que todo espaço que mantenha relação com o aqui
é enunciativo: por exemplo, o lá mantém relação de distanciamento do espaço da enunciação, mas permite a recuperação desse espaço (se eu digo lá, é porque estou aqui).
debreagem temporal
Por fim, a debreagem temporal, define a disposição das coordenadas temporais no enunciado.
são enunciativos os tempos ordenados em relação ao agora da enunciação.
Mesmo que o tu não seja explicitado no enunciado, sua presença é recuperada em virtude da relação complementar eu/tu: a enunciação de eu pressupõe a enunciação de tu (um dirige seu discurso ao outro).
(5) Agora, eu sei como agir.
Em (5), tem-se uma debreagem temporal enunciativa, pois o tempo determinado é o da enunciação,
o agora, explícito no enunciado, e corroborado pelo verbo saber conjugado no presente do indicativo.
(6) Naquela época, eu menti.
Já em (6), a debreagem temporal é enunciva, pois naquela época indetermina o tempo do enunciado, que
é diferente do da enunciação.
(7) Falei com ela ontem.
(8) Amanhã, teremos uma reunião.
Finalmente, em (7) e (8), embora falei e teremos denotem, respectivamente, ideias de passado e futuro, constituem tempos ordenados em relação ao agora da enunciação e, portanto,
caracterizam debreagens temporais enunciativas.
Link original http://www.fflch.usp.br/dl/semiotica/es/eSSe71/2011esse71_alguerrajunior.pdf